As game jams são um evento relativamente comuns hoje em dia, sempre com realizações nos centros universitários e até entre grupos de entusiastas e iniciantes no desenvolvimento de jogos, com recortes identitários ou em defesa de determinados segmentos da sociedade.
No Brasil, esse fenômeno começou a se espalhar nos primeiros anos do século XXI, com algumas iniciativas locais de pessoas que já desenvolviam jogos e conseguiam juntar um certo números de incentivadores na área, com seus equipamentos pessoais e com os softwares que dispunham à época, muito antes de empresas como Unreal e Unity disponibilizarem seus motores em gratuidade.
Em 2005, pela primeira vez, um projeto mais robusto nesse sentido se realizou e chamou a atenção da mídia especializada por contar com um nome de peso na produção da iniciativa.
O Enduro Game_Cultura foi o primeiro evento de caráter nacional criado com a intenção de ser uma maratona de produção de games em uma jornada imersiva com 24h ininterruptas de duração.
Como o próprio nome indica, a atividade aconteceu como parte das ações do Game_Cultura, festival de jogos eletrônicos do SESC Pompéia.
O projeto contou com a curadoria de Roger Tavares, pesquisador e docente na áreas de jogos digitais e profissional que cunhou o termo “Game Cultura” a partir dos Game Studies já tradicionais fora do país no estudo dos jogos como uma expressão cultural e manifestação social da contemporaneidade.
“O universo dos games, em expansão desde a década de oitenta, é atualmente um dos fenômenos mais intensos no panorama da cultura digital”, informava texto de divulgação do projeto, de 2005, assinado pela equipe do Sesc SP, hoje já offline.
“Responsáveis por uma indústria mundial e milionária, que abrange grande contingente de jovens e adultos em todo o planeta, os jogos eletrônicos já configuram, sem dúvida, um fenômeno cultural característico de nossa época”, destacava o artigo.
“Em função de seu alcance, os games vêm sendo abordados sob diversas óticas. Pais, educadores, médicos e outros especialistas se dividem no debate sobre as influências desses jogos na formação de crianças e adolescentes e mesmo no comportamento de adultos”.
Incentivando esse debate, com estímulo ao avanço de posições críticas e possibilitando ao público conhecer o atual estágio da cultura dos games, a equipe de novas mídias e cultura digital do núcleo de eventos do SESC Pompéia produziu o projeto game_cultura, realizado entre os dias 08 a 30 de janeiro de 2005.
Como parte das ações do projeto, uma “gincana de produção de jogos eletrônicos” foi aberta para profissionais, estudantes ou amadores de áreas técnicas, no dia 14 de janeiro, às 18h.
Cinco equipes selecionadas foram desafiadas a criar e desenvolver, em 24h, a demo de um jogo a partir do tema Malandragem Brasileira, revelado somente na abertura do enduro.
Como destacou o informativo do Sesc, “foram 24 horas de criação, improviso e resistência, sem poder sair do SESC Pompéia”.
O júri que avaliou os trabalhos foi formado por Emiliano de Castro, então diretor da Atlantis Studios e diretor de relações institucionais da ABRAGAMES à ocasião, Wilson Sukorski, músico e artista multimídia, que participou do evento game_cultura produzindo o anti-game “jogo_chato: a fronteira final”, Pablo Miyazawa, então editor-chefe da revista EGM Brasil, Gerson Souza, que atuava como contry-manager da Vivendi Universal Games Brasil, distribuidora dos jogos Half-Life 2, Counter-Strike, Warcraft e Diablo, e Roger Tavares, doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, atuando como professor e pesquisador do Centro Universitário SENAC, pesquisador das possibilidades comunicacionais dos videogames.
O time de avaliadores selecionou, entre os 22 grupos inscritos, as cinco equipes finalistas que participaram do Enduro Game_Cultura e que produziram os jogos abaixo relacionados, por ordem de colocação na maratona:
1º Colocado – Start2play
Game: Malandro é Gato
Cenildon Muradi Jr, 29
Mauricio Campo, 27
Rafael Leme, 27
Fabricio Campos, 26
2º Colocado – hitTesters
Game: O Pulo do Gato
André Brunetta, 22
Luis Segundo, 23
Daniel Oliveira, 24
Willian Queen, 21
3º Colocado – sioux
Game: Um Se7’e Um
Philippe Capovillez, 30
Dalton Eidi Hisayasu, 27
Fabio Takao Okubo, 24
Michel Kojimizusaka, 27
4º Colocado – Osmar Obros
Game: Malandro Mulato do Malaco Baco
Renato Genari, 22
Tiago Moraes, 21
Guilherme Ramos, 23
Rafael Donato, 20
5º Colocado – Pretovelho games
Game: Vida de Malandro
Marcus Vinicius, 25
Denis do N. Carvalho, 19
Wellington C. Almeida, 22
A premiação aconteceu dia 30 de janeiro, data de encerramento do evento, às 18h30, na unidade SESC Pompéia.
Um relato do desenvolvedor Fabricio Zuardi segue, ainda hoje, disponível online, em seu blog pessoal, com impressões sobre a participação na maratona de criação de jogos naquele ano.
Em razão do sucesso da iniciativa, o Sesc SP deu continuidade ao projeto Game_Cultura até 2010, com ações em várias unidades da capital e do interior. Houve uma segunda jam de games do projeto, em 2009, também no Sesc Pompeia, e o blog RetroGamesBrasil também traz informações e fotos da ocasião.
Imagem: Edição 2008 do projeto Game_Cultura – Foto: arquivo Sesc SP
Ex-editor e atual colaborador do Quebrando o Controle, o jornalista se diz um Geek assumido e fanático por RPG e Dungeons & Dragons. O profissional atua desde 2007 no jornalismo de games, com passagens pelos veículos Portal GeeK, Game Cultura, GameStorming, Rádio Geek e Drops de Jogos, entre outros.
