Imagine um universo paralelo em que, apesar de vivido no período final do Século XXI, os Estados Unidos ficaram “presos” nos anos 1950.
Um mundo deliciosamente asséptico e idílico: os Baby Boomers, os eletrodomésticos de metal em tons pastel, os Cadillacs e os Plymouths, os televisores branco e preto, as donas de casa de saias rodadas e longas no melhor estilo de “Papai Sabe Tudo” (Father Knows Best, 1954)… e uma obsessão insana por energia atômica.
Naquele universo, a Informática não evoluiu muito: em vez da “Internet das Coisas”, aconteceu “Atomicidade das Coisas”. Militaria atômica (inclusive armas portáteis, de mão), veículos atômicos, robôs atômicos, armaduras atômicas etc. – a imagística do Retrofuturismo, termo que teria sido cunhado pelo visionário artista Lloyd Dun em 1983, permeia todos os recantos de lá.
Porém, a coisa toda desmoronou quando o que parecia inevitável aconteceu: a guerra atômica entre os americanos e os chineses (e algumas nações menores) em outubro de 2077.
Após explosões que duraram aproximadamente duas horas, o mundo ficou em chamas, o caos foi instaurado. Mas… aqui entra na história a popular empresa de tecnologia Vault-Tec: prevendo o Apocalipse, construíram-se enormes abrigos nucleares, chamados de Vaults (“Cofres”), para que poucos endinheirados e selecionados pudessem se abrigar e, centenas de anos depois, “reconstruir a América”.
Uma vez lá dentro, os moradores podiam gozar de segurança, comida e bebida, diversão e lazer, bastava andar na linha e seguir os preceitos.
Como diz o ditado, no papel tudo é lindo. Será?
Esse nosso planeta hipotético foi concebido como pano de fundo para os jogos da série Fallout (literalmente, “Decaimento Radioativo”).
O primeiro foi lançado em 1997 pela Black Isle Studios, o segundo chegou um ano depois.
Inicialmente, os games foram apresentados no chamado 3D Isométrico (ilusão de três dimensões, visão de lado e por cima), mas a partir do terceiro, lançado pela Bethesda Softworks em 2008, sofreu um grande upgrade.
Outros títulos viram a luz do dia: Fallout: Brotherhood of Steel (2004), Fallout: New Vegas (2010), Fallout 4 (2015) e Fallout 76 (2018), com a promessa de um Fallout 5.
O gameplay revolve em tentar sobreviver no Apocalipse. Depois de montar sua personagem, você deixa a segurança de um Vault e parte, por algum motivo importante, para explorar a terra devastada.
Como “fiel escudeiro”, você carrega um Pip Boy: uma espécie de bracelete desengonçado que provê controle de inventário, receptor de rádio, GPS e monitoramento da saúde e da evolução do jogador conforme a exploração acontece.
Com o passar dos anos, a radiação causou mutações na vida animal: as baratas, por exemplo, ficaram enormes e radioativas!
O jogador precisará lutar contra toda a sorte de criaturas, mas não apenas isso: a terra ficou salpicada de pequenos bolsões de civilização, grupos religiosos fanáticos e cidadelas decrépitas, construídas de metal enferrujado.
Como nos chamados “jogos de mundo aberto”, não é preciso assumir missões caso o jogador não as queira, ele pode vaguear pelo Apocalipse e evitar o contato humano. Ele decide!
E aqui… entra a novíssima série de TV de Fallout. Produção da Amazon Prime Video, contou inclusive com um diretor dos jogos como produtor executivo, Todd Howard, além dos produtores Graham Wagner e Geneva Robertson-Dworet.
Jonathan Nolan e Lisa Joy, da Kilter Films, também integram a equipe. No enredo, a gracinha Ella Purnell, atriz britânica que tem participado de séries nos EUA, interpreta Lucy MacLean, residente do Vault 33.
Em virtude de uma situação horrível que envolve o pai da moça (vivido pelo sempre ótimo Kyle MacLaclhan), ela precisou deixar o conforto do “Cofre” para procurar por ele (sem spoilers!) – com tudo que esse fardo carrega: uma jovem civilizada e de princípios que passa a viver num lugar que não dá a mínima para os “Vault Dwellers”, os moradores dos Vaults.
O outro personagem em foco é Maximus, vivido pelo relativamente estreante Aaron Motten, texano que dá brilho à personagem num show de atuação.
Ele quer integrar a chamada “Irmandade do Aço” (Brotherhood of Steel), um misto de militaria e religião que faz lembrar os “Mitraicos” da subestimada – e finada – série “Raised by Wolves”, todavia, é tratado como um garoto de recados pelos líderes religiosos… até que algo acontece e muda o destino do rapaz.
Sendo assim, Lucy e Maximus são heróis incidentais que, por mero acaso, encontram-se numa sequência de tiroteio que envolve outra personagem importante.
The Ghoul, uma espécie de zumbi plenamente racional, é magistralmente interpretado pelo conhecido Walton Goggins, ator do Alabama com uma lista longa de trabalhos, tais como Maze Runner, Tomb Raider e Antman.
O sotaque, a postura, a movimentação; ele dá vida a uma personagem que encampa o estereótipo do cowboy, do Velho Oeste, com nuances de cinismo, violência e vingança (sem spoilers!).
É claro, há diversas outras personagens, contudo, essas três perfazem o núcleo de Fallout.
A produção de Fallout é incrível: os cenários, os figurinos, os efeitos visuais, a trilha sonora, até o Pip Boy ficou perfeito; tudo agradará sobremaneira aos fãs dos jogos.
De fato, é divertidíssimo procurar por easter eggs nos cenários, objetos bem manjados e armazenados em armários, estantes e guarda-roupas. Fique atento!
A série estreou no Brasil na noite de 10 de abril, no serviço de streaming da Amazon, com a costumeira incrível qualidade de imagem, com legendas e dublagem em Português.
Todos os 8 episódios estão disponíveis. Nos EUA, o programa recebeu inicialmente incríveis 93% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes.
Se você gosta de Fallout em especial e de seriados/filmes de Apocalipse, essa é uma ótima pedida, mas… não demore muito, pois o fim do mundo é algo que sempre viveu no imaginário do Homem. Aproveite e veja logo!
Legenda das imagens do carrossel:
Pôster da série – O instigante pôster oficial da série.
Fallouts antigos – Os primeiros jogos da série, período pré-Bethesda Softworks.
Pip Boy – Pip Boy: espécie de bracelete que provê controle de inventário, receptor de rádio, GPS e monitoramento da saúde e da evolução do jogador.
Lucy – A gracinha Ella Purnell, intérprete de Lucy.
Maximus – Maximus ao lado de seu “Lorde” – e a tão desejada armadura atômica T-60.
The Ghoul – pistoleiro de uma espécie mutante que vive na terra devastada. Morto-vivo, mas racional. Atuação magistral de Walton Goggins.
Bomba explode – Bomba atômica explode na cidade de Los Angeles em 2077.
Terra devastada – Em Fallout 3, um morador(a) do Vault 101 se vê obrigado(a) a deixar a segurança do abrigo.
Imagem: Overload Games
Marcus Garrett é graduado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, em 1996, e pós graduado com Especialização em Biblioteconomia, em 2009. É pesquisador da história dos jogos eletrônicos ao Brasil em consoles microcomputadores domésticos, tendo lançado 7 livros e 2 documentários sobre o tema. É coeditar das revistas Jogos 80 (desde 2004), Espectro (desde 2017), Micro Sistemas (desde 2020) e da coleção Histórias Extraordinárias (desde 2021).







