O que é um Clássico? | Mundo Bits

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“Esse é um clássico!” Confesse! Você já ouviu alguém dizer isso. Você mesmo provavelmente já disse! Mais de uma vez! Para mais de uma coisa! Filme, música, livro, carro e, se você joga videogame (que eu acho que sim, senão não estaria lendo uma coluna de um gamer em um site de gamers de uma comunidade gamer).

O problema é que usamos o termo “clássico” com tanta frequência nos dias de hoje que a importância do termo pode ser diminuída.

Imagem: Warner | Seria Blade Runner um Cult clássico ou clássico cult?

Mas vamos voltar no tempo e tentar resgatar o conceito original de clássico e tentar aplicá-lo aos videogames, que é o foco dessa crônica.

A palavra “clássico” tem origem em um escritor romano chamado Aulo Gélio, que viveu dois séculos antes de Cristo. Ao utilizar a palavra clássico, ele se referia a algo que tem classe, ou seja, o que é refinado, o que não é rude, sem educação.

Com o passar do tempo, os romanos passaram a se referir como clássicas as grandes obras literárias, teatrais, artísticas. Principalmente as gregas, que resistiram ao tempo.

E se resistiram ao tempo, definitivamente não eram moda. Não são experimentos passageiros e efêmeros. E mais importante: não são datados.

Ao longo dos séculos, a civilização ocidental passou a declarar como clássicas as obras de Homero, Shakespeare, Dante, da Vinci, Van Gogh, Mozart, Beethoven, Beatles, Kubrick, só para citar alguns.

Imagem: Warner | Você tem de conhecer esse clássico!

Ainda que produzidas há séculos, um clássico não se perde no tempo, não fica datado, não se torna uma efemeridade. Pode até ser reinterpretado por novas gerações, como, por exemplo, Romeu e Julieta, cuja história de amor é atemporal; ou a Divina Comédia, que, de tão pujante, permeou o imaginário cristão ocidental com cenas e fatos que sequer são descritos na Bíblia; ou Yesterday dos Beatles, música mais tocada no século XX e incontáveis vezes reinterpretada por outros artistas em pouco mais de meio século de sua criação.

Bem, e por questões temporais é que vou pegar os Beatles para fazer o gancho do que vem a ser um clássico de uma arte tão recente como os jogos eletrônicos.

Como disse linhas acima, Paul McCartney concebeu Yesterday há pouco mais de meio século (foi gravada em 14 de junho de 1965 no Abbey Road Studios em Londres). Portanto, na linha do tempo da história da humanidade, seria o equivalente a alguns milissegundos atrás. E 4 anos depois, em 1969, quando os Beatles estavam acabando como banda, Ralph Baer inventou os jogos eletrônicos como um produto comercial, o seu Magnavox Odyssey.

Imagem: Wikipedia

E você, a esta altura, deve estar se perguntando: “mas e ai, farroupilha?! Aonde você quer chegar?”

Eu respondo. Calma, jovem mancebo! A paciência é uma virtude!

Vamos lá. Acho que já deu para ficar claro que uma obra deve receber a titulação de clássica quando transpassa o tempo em que foi desenvolvida, cria patamar criativo de inspiração para contemporâneos e gerações vindouras e serve de referência para a posteridade. E com base nesses elementos, podemos chegar à conclusão de que diversos jogos eletrônicos podem ser classificados desta forma: como verdadeiros Clássicos.

Com todo o respeito a quem não concorde comigo (apesar de eu estar certo e você incontestavelmente errado, caso divirja de minha modesta opinião absolutamente correta (parênteses dentro de parênteses: lembre-se de que esta coluna é uma crônica, e não um artigo científico. Fecha parênteses dentro dos parênteses)), vou apresentar minha lista de Top 10 do que são videogames clássicos:

  • Pong (1972. Atari). Se Ralph Baer criou o videogame, Nolan Bushnell, com a sua Atari, o tornou um hit. Pong foi o primeiro boom da indústria. Foi ele que fez as pessoas passarem a comprar consoles para suas casas. Era simples, primordial. Mas visceral. Fazia as pessoas se reunirem na frente da TV não como um telespectador passivo, aguardando um filme ou um telejornal. A partir de Pong as TVs passaram a ser objetos de uso ativo, com a qual o jogador interagia efetivamente com o que aparecia na tela.
  • Space Invaders (1978. Taito). Uma espaçonave tentando eliminar os OVNIs que se aproximavam de nosso planeta. Inspirou todos os jogos de aviões/nave que vieram depois. Inclusive River Raid, que preteri nessa lista por ter vindo depois do jogo da Taito.
  • Pitfall (1982, Activision). O percussor dos jogos de aventura modernos. Sem ele, possivelmente não teríamos Tomb Raider, Uncharted, Prince of Persia e tantos outros.
Imagem: Activision
  • Tetris. (1984, Alexey Pajitnov) Possivelmente o jogo eletrônico mais jogado na história da humanidade, criado da União Soviética para dominar o mundo!
  • Super Mario Bros. (1985. Nintendo). O jogo que se tornou sinônimo de videogame. Clássico supremo de Shigeru Miyamoto é uma obra de arte que influenciou todos os jogos de plataforma que o seguiram. E pensar que ele conseguiu colocar na fase 1.1 um tutorial completo do jogo.
  • The Legend of Zelda (1986. Nintendo). Se Adventure do Atari foi um percussor dos jogos de aventura/RPG, coube a Shigeru Miyamoto e o seu The Legend of Zelda elevou este tipo de jogo a um patamar jamais imaginado. Sem o primeiro Zelda não teríamos todos os demais jogos lendários desta franquia (óbvio, né? Não sei por qual motivo escrevi isso, mas não vou apagar) e, possivelmente, Final Fantasy e diversas outras franquias de RPGs, não existiriam. Pelo menos não como o conhecemos.
  • Sonic the Hedgehog (1991. Sega). O ouriço azul da Sega trouxe um elemento fundamental para os jogos que viriam após seu lançamento: a sensação de velocidade! E isso não foi pouco. E afetou significativamente muitos outros jogos que vieram depois dele. E não só os side scrolling.
Imagem: SEGA
  • Street Fighter 2 (1991, Capcom). Ok você pode preferir Mortal Kombat. Ou The King of Fighters. Ou Smash Bros. Ou Soul Calibur. Ou Takken. Ou qualquer outro jogo de luta. Mas digo claramente para você: todos os jogos de luta existentes hoje em dia deveriam render homenagens e agradecimentos à SF2 nos créditos. SF2 se tornou sinônimo de videogame e ícone da cultura pop (apesar de terem cometido o filme com o Van Damme).
  • Wolfenstein 3D (1992). Precursor dos FPS tão populares nos dias de hoje, Wolfenstein iniciou uma verdadeira revolução nos jogos ao nos apresentar a jogabilidade em 1ª pessoa. Sem ele franquias como Doom, Quake, Medal of Honor, Halo, Call of Duty, Battlefield e tantas outras, não existiriam.

Estes são apenas alguns exemplos de jogos que resistiram ao teste do tempo e continuam a ser referência na indústria dos videogames, transcendendo gerações e inspirando novos desenvolvimentos. Eles são verdadeiros clássicos que deixaram uma marca indelével na história dos jogos eletrônicos.