Adoraria escrever “já deu o que tinha que dar” mas trata-se de uma marca que tem peso, tem tradição e, gostem ou não, seus produtos tem uma legião de fãs no Brasil. Não é pouca coisa não. Por outro lado, a “antiga” Tectoy (aquela que conquistou corações e mentes) não existe mais. E se isso não é o suficiente, a internet está a pleno vapor, transformando a realidade num estalar de dedos. Quer entender como?
A pendenga do Zeenix levou tanto a empresa que adquiriu a antiga Tectoy, quanto a tal “equipe” de marketing, a um show de vergonha alheia, tamanha a quantidade de equívocos cometidos. Inclusive com direito a “choramingos” em um podcast badalado.
Nem bem a poeira tinha sido levantada, com dúzias de lives, vídeos e podcasts debatendo a entrevista do cabeça de marketing, e a Transire Eletrônicos (agora dona da Tectoy) fez a sua jogada de mestre: chamou para “divulgação” do produto os “porralouca” dos games.
Esse movimento não apenas tornou tudo anterior a ele ultrapassado, sem graça e sem a menor relevância, como deixou um recado claro ao mercado: se achavam que um garoto de cabelo azul era inusitado, esperem só pra ver os tiozões aloprados que vão turbinar o oba oba. Juro, parecia a troca do Paulo Pimenta pelo Sidônio Palmeira, tamanho nonsense.
Mas calma com o andor, que o santo é de barro: a grande quizumba do Zeenix se deveu principalmente ao seu preço alto, em desacordo com o que o hardware pretendia oferecer. Além disso, ficou tudo muito confuso quanto ao público alvo, ora sendo os retrogamers, ora a moçada descolada, que poderia ter além de um console, um computador de bolso. Assim tipo uma Ferrari mas com motor de tuk-tuk. Não dava, né? Pior que não deu e o show de horrores que se seguiu foi até previsível.
No final das contas, ou melhor dos negócios, a empresa deve estar com um baita mico nas mãos e que precisa de desova urgente. Como? Chama ai uns caras descolados de verdade e manda o pessoal agitar a avenida. Pelo menos é o que eu penso que está acontecendo e, a valer o que está no vídeo dos Piologos, a aula de marketing que faltou anteriormente parece que agora deu as caras. É ruim? É, mas provavelmente vai vender uma nova imagem do produto.
E quanto aos retrogamers, saudosistas, colecionadores, fãs da antiga Tectoy? O que acontecerá com essas tribos? Acredito que em breve estarão (mais ainda) órfãos de pai e mãe. Faz sentido, é natural e se eu estivesse no comando dessa carreta furacão desgovernada, faria o mesmo. Bora vender pra moçada desavisada, classe média alta, crente que os produtos homologados pela Anatel não interferem com marcapasso.
É triste? É, mas é a realidade dos dias de atuais. A internet é terra de gente desavisada, que entende muito pouco sobre como a nossa sociedade está mudando e mudando rápido, até porque está focada no seu próprio umbigo. Sinal disso é o tal supremo que nem consegue passar pelo captcha do semáforo. Pode isso Arnaldo?
Na boa, estou parecendo muito crítico, talvez ácido demais? Pois é, mesmo tentando escapar, fui bombardeado por todos os lados com esse assunto e até entendo isso, por conta de todo histórico da Tectoy e sua relação com os gamers mas é preciso, o quanto antes, atualizar neurônios para:
1- a Tectoy dos “antigamentes” não existe mais. Quem comanda a marca hoje talvez não entenda bulhufas desse mercado e nem perceba onde de fato está o potencial dela;
2- o que foi feito pela turma do cabeça azul ficou no passado. Não tem mais relevância alguma. Revertere Ad Locum Tuum.
3- a marca Tectoy, a despeito das pataquadas desses últimos meses, ainda tem valor comercial alto, mas eu não aconselho a forçar demais a barra. Podem chamar os malucos do marqueting que quiserem, mas botem aí um gerente de produto que honre pelo menos o diploma que ostenta, já que marqueting é para vender o que a produção faz e os “donos” decidiram (e pagaram para) fazer. Simples assim.
Minha crítica nem é tanto ao produto, ao cabeça, ao ceo ou até mesmo ao preço, mas a essa insanidade generalizada que correu solta em volta de um produto duvidoso, com preço estratosférico, cheio de concorrentes tão bons ou melhores, sem nem ao menos considerarem que no mundo empresarial chorar não dá XP.
Em tempo: a citação que fiz em latim está grafada logo acima do portão principal do Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e traduzida quer dizer “volte para o seu lugar”. Provavelmente uma alusão às almas penadas que tentam sair de lá e retornar ao mundo dos vivos.
Então, se quiser criticar, elogiar, xingar, falar palavras de incentivo, mandar pix pra ajudar na aposentadoria, etc, o canal mais eficiente é o velho e surrado e-mail: renato@tilt.net. Sinta-se livre pra descer o sarrafo porque nesta altura do campeonato, meu amigo, eu já sofri todas as críticas positivas e negativas que um gamedev pode sofrer.
Game Designer formado em Desenho Industrial e Comunicação Visual, em 1981 pela PUC/RJ. Foi diretor técnico e editor da revista Micro Sistemas de 1983 até 1995. Produtor do site TILT online desde 1996. Autor de vários jogos para computador, tais como Amazônia, Serra Pelada, Aeroporto 83, Angra-I, Xingu, Resgate na Serra do Roncador, Pedra Negra, e muitos outros. Criador das ferramentas de produção e programação de jogos: Sistema Editor de Adventures, Zeus, Micro Aventuras e Projeto Gênesis.