Recentemente mencionei a importância do primeiro pavilhão português na Game Developers Conference (GDC), para a promoção e visibilidade da imagem internacional da indústria de videojogos portuguesa. Agora ofereço um vislumbre do impacto dessa participação inédita, que possa servir de aprendizado para o mercado brasileiro, visto que compartilhamos língua, cultura e história.

A presença lusa em São Francisco não se caracterizou apenas pela quantidade de delegados (cerca de meia centena) ou pela estreia do pavilhão português, mas também pela coordenação e colaboração entre várias empresas, entidades e associações, numa iniciativa liderada pelo cluster eGamesLab (sediado no arquipélago da Madeira), reforçada pela receção oficial à missão portuguesa da GDC no Consulado Geral de Portugal em San Francisco. Essa ação política também foi um bom indicador de um compromisso no âmbito do “nation branding”, estratégia de promoção e reforço da identidade nacional, que tanto sucesso faz em outros mercados.

Muito se poderia escrever sobre as virtudes desse tipo de esforço, mas entendo que o melhor será deixar que os intervenientes desta iniciativa possam testemunhar seu próprio ponto de vista. Para isso, pudemos contar com a colaboração da APVP (Associação de Produtores de Videojogos Portugueses), por intermédio de Diogo Rato, seu diretor executivo, que gentilmente coletou alguns testemunhos, como o de Muhammad Satar, CEO da Infinity Games, empresa especializada em jogos para dispositivos móveis; de Miguel Campos, do estúdio indie One Way Eleven (do cluster eGames Lab) que levou um jogo para o GDC Pitch; bem como a visão da própria APVP, através de seu presidente Jeferson Valadares (um nome que soará familiar a alguns game developers brasileiros).
Sem mais delongas, seguem os testemunhos:

Jeferson Valadares
Fortis Games – VP of Corporate Development & APVP – President of the Board
“É com imenso orgulho e satisfação que testemunhamos o contínuo crescimento e maturidade da indústria portuguesa de videojogos. A presença robusta e destacada dos membros da APVP e restantes produtores nacionais na Game Developers Conference é um testemunho claro desse progresso. É especialmente gratificante ver um estúdio português entre os finalistas do Independent Games Festival, o que não só demonstra a qualidade do trabalho produzido em Portugal, mas também destaca o talento e a inovação presentes no tecido empresarial português.”
“Esta delegação reflete o compromisso e dedicação da comunidade de desenvolvimento de jogos em Portugal onde destacamos o primeiro pavilhão português na GDC promovido pelo eGamesLab em colaboração com a APVP. Este é o revalidar de um esforço contínuo da indústria de videojogos em Portugal: estamos no caminho certo para nos tornarmos um centro de excelência global onde já se afirmam indie developers, produtores de jogos mobile e consola, fornecedores de ferramentas e serviços e várias startups a desenvolver tecnologia disruptiva para a indústria de videojogos.”

Muhammad Satar
Infinity Games – CEO
“Como CEO da Infinity Games, é com grande entusiasmo que destaco a importância da nossa participação na primeira delegação Portuguesa na Games Developer Conference. Este evento representa uma oportunidade única para interagir com os principais players da indústria dos jogos, compartilhar conhecimento e estabelecer parcerias estratégicas. A presença portuguesa nesta plataforma global não apenas demonstra o crescimento e a maturidade do setor de desenvolvimento de jogos em Portugal, mas também abre portas para colaborações inovadoras, ampliando nosso alcance e impacto no mercado internacional.”
“A Game Developers Conference não é apenas uma oportunidade de networking, mas também uma fonte inesgotável de conhecimento. Como empresa em forte crescimento da indústria de jogos em Portugal, torna-se fulcral participar ativamente nesses eventos, contribuindo para o avanço e a excelência do setor a nível nacional. Estou confiante de que a nossa presença nesta delegação portuguesa promovida pelo consórcio eGamesLab e pela APVP, não só fortalecerá a posição da Infinity Games no mercado global, mas também contribuirá para o reconhecimento e o crescimento contínuo da indústria de jogos em Portugal. Juntos, estamos moldar o futuro dos jogos, e a nossa participação na GDC é um passo crucial nessa jornada.”

Miguel Campos
OneWayEleven / WOWSystems – Founder
“A presença da One Way Eleven na GDC2024 revelou-se da maior importância para a consolidação do posicionamento do estúdio e dos títulos em produção para o mercado internacional. Com efeito, a validação pelo mercado por parte dos utilizadores que experimentaram a nossa demo no stand português, bem como, a procura desencadeada por diversos publishers e os contactos sólidos estabelecidos, permitem-nos encarar com confiança e vontade redobradas, no sentido de produzir videojogos de sucesso que nos deixem orgulhosos e que demonstrem a qualidade do trabalho desenvolvido em Portugal.”

“A selecção para o GDC Pitch 2024 e a oportunidade de apresentar o videojogo Hanno no mesmo, revelaram-se muito positivas, gerando um grande nível de atenção e de visitantes para o stand e permitindo contactos com grandes players do mercado.”
“A presença de Portugal de uma forma agregada e institucional, através do projeto eGamesLab e da APVP, é, a nosso ver, uma decisão acertada que permite projectar no mercado internacional o talento existente no país, o potencial de Portugal enquanto mercado produtor e exportador de grandes títulos de videojogos, dando oportunidade aos estúdios portugueses de demonstrarem nos principais palcos mundiais os seus produtos, algo que pelos seus próprios recursos seria mais complicado mas sobretudo, abrindo novas portas, estimulando o diálogo e o ecossistema português. É nossa esperança que este tipo de iniciativas seja recorrente e que a indústria portuguesa continue a apoiar-se mutuamente e a projectar a sua qualidade e projetos no mercado internacional.”
Imagem: Filipe Veiga

Licenciado em Engenharia Informática e Computação pela Universidade do Porto, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, Brasil. Fundou com o amigo Marcus Garrett, a Teknamic Software (Bitnamic no Brasil), software house dedicada a reeditar jogos clássicos, como “Amazônia” e “Incidente em Varginha”, e publicar novos títulos como “Alien Holocaust” e “Saboteur! Remastered” para o Atari 2600 e o ZX Spectrum.