Os afrogames são um campo importante que vem se firmando no mercado de jogos digitais, especialmente dos indie games, por possibilitarem o resgate histórico dos povos negros e suas origens, oferecerem dimensão narrativa para esse legado, por meio do afrofuturismo e, adicionalmente, agirem como motores para a inclusão de novos profissionais no desenvolvimento de jogos, entre as minorias não contempladas nos grandes estúdios.
A Game e Arte, desenvolvedora paulistana de jogos presente há mais de uma década no mercado, está produzindo uma trilogia denominada Sankofa Arcade, que vai além da diversão do jogo e da questão identitária, registrando um histórico de gerações de uma mesma família negra, a partir de jogos que atuam em narrativas distintas.
“Tem um foco importante que é ter mais pessoas negras contando as suas histórias dentro do desenvolvimento de games [a partir] de um imaginário de referências: o que a gente pensa quando pensa em videogame brasileiro, quais são os personagens e mecânicas, as dinâmicas e a trilha”, observou a desenvolvedora, ao trazer as primeiras reflexões sobre a produção da trilogia.
“Nos afrogames da Game e Arte, a gente traz uma perspectiva de poder contar as nossas histórias, principalmente aquelas muito pessoais, valorizando a nossa ancestralidade, para trazer esse novo lugar de imaginário do que pode ser o videogame nacional”, explicou Tainá, em bate-papo com o Quebrando o Controle.
O primeiro jogo do projeto, É Doce!, apresenta uma história relacionada à lembrança de infância ligada a uma festa de distribuição de doces. Ilê, criação lançada esse ano, se inspira nos jogos de batalhas interestelares dos anos 80 na defesa de Ilê, um quilombo interplanetário criado após a destruição do planeta Terra.
Para além das dificuldades de se produzir um game no Brasil, Tainá identificou, durante a conversa, um outro problema, que é o olhar da indústria o que pode ser classificado ou não como um jogo para fins de mercado. “Está num lugar de experimentação, essa valorização [é necessária] e que todo processo de desenvolvimento independente faz parte, sim, da indústria de games ou da cultura em linhas gerais”, ponderou.
Para Tainá, a ausência de políticas públicas, leis de incentivo e fundos para estimular o amadurecimento da produção de games no país resulta em dificuldades ainda mais evidentes para a consolidação de novos estúdios e lançamento de games nacionais.
O próximo game, explicou, segue em produção, mas envolve a oferta ou recebimento de um presente, em que a figura materna terá grande destaque. “[O game traz] uma narrativa que é a figura da minha mãe dentro desse universo afrofuturista da sankofa.
Outras informações estão disponíveis nas redes sociais em Talk to Game Arte.
Assista, abaixo, à entrevista completa.
Imagem: Tainá Felix na NerdCon 2023 – foto: Kao Tokio

Idealizador do projeto Indie Brasilis, ex-editor e atual colaborador do Quebrando o Controle, o jornalista se diz um Geek assumido e fanático por RPG e Dungeons & Dragons. O profissional atua desde 2007 no jornalismo de games, com passagens pelos veículos Portal GeeK, Game Cultura, GameStorming, Rádio Geek e Drops de Jogos, entre outros.