No coração do Figueirense, António Durão assume-se orgulhosamente como um farol de inovação, representando o espírito pioneiro da Code.Up, uma entidade sem paralelos em Portugal, distinguindo-se como a única instituição que oferece cursos no domínio especializado do “pipeline de produção” para o desenvolvimento de videojogos. Situados na Figueira, os seus programas não só atendem às aspirações crescentes da juventude, mas também respondem com objetivos sociais mais amplos.
Segundo Durão, a missão da Code.Up transcende a mera educação; promove a criação de valor, facilita a retenção de jovens talentos no país e até atrai nômades digitais de terras distantes. Com o compromisso de promover o turismo de negócios e fomentar um ecossistema vibrante, o Code.Up surge como um catalisador de transformação, encarnando o espírito inovador que impulsiona o panorama digital. Este reconhecimento sublinha as contribuições excepcionais que Durão fez no domínio do desenvolvimento de videojogos em Portugal durante os anos, um testemunho da busca incansável pela excelência que define o espírito da Code.Up em Portugal.
Bruno Reis, colaborador do Quebrando o Controle, conversou com o idealizador do projeto, em Portugal. Um resumo da troca de ideias, segue, abaixo.
Quebrando o Controle: Pode contar-nos a história da fundação da Code.Up e o que inspirou o seu estabelecimento no panorama game e tecnológico de Portugal
Antonio Durão: A história do CodeUp inspirou-se na falta de soluções que na altura (2017) havia em Portugal na área da formação para a área da programação, mais concretamente para a área dos videojogos, algo que eu já sonhava há muitos anos. Também teve a ver com a minha paíxão pela programação e pelo ensino na mesma proporção. Comecei a programar aos 12 anos, como muitos da minha geração que tiveram o seu computador pessoal no início dos anos 80, popularizado pelo mítico Zx Spectrum, e uma paixão ainda maior não só pelos jogos, mas por tudo o que está por detrás do produto final. Aliado a isso sempre programei em várias linguagens, é algo que para mim é simples e natural e durante um período da minha vida fiz isso profissionalmente. Senti que fazia falta uma escola (mais lato do que academia) de programação, produção e design de videojogos onde eu pudesse ministrar conteúdos disruptivos que normalmente só se dão a níveis mais superiores, tendo em conta que a idade dos meus alunos iniciais rondavam os 8-12 anos. Em 2018 avancei a sério, registei a marca e arranquei com 9 turmas, na Figueira da Foz. Isto é 98% resumido.Entretanto comecei a introduzir outros conteúdos e aos poucos fui construindo um currículo que permitisse a qualquer jovem aprender a produzir (não apenas a fazer) um videojogo num contexto de produção real e em equipa (o que hoje fazemos e é incrível ver os resultados e o nível de formação dos jovens). Essencialmente queria ser a primeira linha de formação de excelência para quem quisesse experimentar o que é trabalhar num estúdio e os processos não apenas técnicos mas de gestão, produção a vários níveis, etc… De vez em quando os alunos tem palestras com outros profissionais para verem sempre com outros olhos a realidade que eu lhes tento transmitir, pois também eu estou ligados a vários projetos internacionais, apesar de sempre no backoffice do que mais gosto de fazer: produção, Q&A, gestão de projeto (se bem que quando é preciso desço ao código e ao motor de jogos). Hoje somos muito mais do que isso pois somos uma referência na área do ensino nesta área e temos alguns alunos nossos que já foram para o ensino superior na área dos videojogos e quando lá chegam as suas competências são reconhecidas e validadas. Digo sempre que é um bom sitio para começar 🙂
QoC: Como é que a Code.Up contribui para dinamizar a comunidade de desenvolvimento de jogos em Portugal e que oportunidades ou desafios únicos vê neste mercado?
AD: Desde há 4 anos a esta parte que somos embaixadores da GameJam+ e esse facto é uma grande oportunidade pois é onde, uma vez por ano, todos os alunos metem à prova, durante 3 dias, tudo o que aprendem durante o ano que a precede. Ao ter um ciclo de formação alinhado com a mais completa maratona de desenvolvimento de jogos do mundo, estamos certamente a criar condições para que cada vez mais jovens entrem neste mercado por vocação, mas com competências bem definidas e o Code.Up é também para eles e elas verem se é realmente o que gostam, com que profundidade quererão seguir essa profissão, e em que área. E temos atualmente muitos alunos no 11º e 12º ano, estes últimos alguns com pretensões em seguir a carreira deles na indústria dos videojogos.
Estamos, por outro lado, a ter alguns contatos com pessoas de outra cidades de Portugal que conhecem o nosso projeto e que estão interessados em abrir o “Code.Up”, o que nos fez pensar logo no desenvolvimento da franquia e em 1ª mão posso dizer que já temos o Contrato de Franchising pronto para ir para o terreno a partir de julho de 2024. Será também uma forma de podermos ajudar a dinamizar o mercado, na medida em que poderemos ter várias escolas em vários pontos do país com um mesmo quadro de referência de aprendizagem e currículo, que já está provado que resulta.
QoC: De que forma o cenário de desenvolvimento de jogos em Portugal evoluiu desde o início do code.up e como o code.up se adaptou a essas mudanças?
AD: O mercado é um sistema, e os sistemas por definição, são dinâmicos. Felizmente tem evoluído muito e bem. E fico satisfeito, naturalmente. Aparecem mais estúdios, cada vez há mais pessoas na indústria, e grandes profissionais e começamos a ser vistos lá fora de outra forma, até porque temos excelentes profissionais a trabalhar em multinacionais, assim como muitas empresas estrangeiras tem cá operações. O code.up, como eu disse tem objetivos de formação. Quer dar o seu humilde contributo através da formação inicial de jovens que depois tem as universidades e/ou os institutos politécnicos para dar essa continuidade.
QoC: Você poderia explicar a importância do GameJam+ para code.up e seu papel no cultivo de talentos e inovação no ecossistema de desenvolvimento de jogos?
AD: A importância que eu dou à GameJam+ é total. É de extrema importância hoje em dia, para o meu currículo uma vez, como já disse em cima, é onde os alunos vão fazer o grande teste do ano, na produção do jogo que as equipas tem que produzir + pitch (com plano de negócios) em 54 horas. Sou parte ativa na equipa global, sou organizador local (Figueira da Foz, Portugal) e ajudo sempre que é necessário, e onde é necessário, seja como mentor, como palestrante, como professor. A GameJam é hoje um grande foco de talentos, e consequentemente de inovação, na medida em que todos os jogos que passam, o trabalho das equipas é validado por juris internacionais de forma completamente profissional. É um processo que gera talento real que depois é trabalhado na medida da sua ambição. Para o CodeUp é uma das partes do nosso currículo, e uma fundamental.
QoC: O que diferencia o code.up de outros hubs ou aceleradores de desenvolvimento de jogos, tanto em Portugal como internacionalmente?
AD: Começa pela idade dos participantes. Hoje, provavelmente, já existirão mais “codeup’s” pelo mundo, mas em 2020, quando fomos à 1ª GameJam (e à Woman Game Jam com 3 meninas) a idade média dos meninos era de 15 anos e um dos jogos chegou à final mundial (passou nas 2 fases de seleção). Alguma coisa está a ser bem feita. Depois os conteúdos que damos hoje enquadram-se no dia-a-dia de um estúdio. Temos aulas normais, de programação, de game design no geral, de level design, narrativas, ilustração, pitch, gestão de projetos, laboratórios práticos etc… são todos conteúdos up-to-date com as melhores práticas do mercado. É um sonho que aos poucos toma forma, mas já o afirmei publicamente querer que o nosso concelho seja um ponto de referência mundial na área da formação e o próximo passo é a abertura de um estúdio onde os alunos mais velhos possam depois ficar a trabalhar comigo noutros projetos que tenho, com algumas empresas internacionais. O caminho faz-se no seu tempo, sem pisar nada nem ninguém e ao nosso ritmo. No limite, como disse, queremos FORMAR profissionais completos e competentes.
QoC: Como o code.up ajuda os aspirantes a desenvolvedores de jogos a transformar suas ideias em projetos de sucesso e quais recursos ou programas você oferece para facilitar esse processo?
AD: Temos um currículo sólido que inicia com um curso de 20h em que damos todos os fundamentos necessários. Mesmo quem nada sabe de programação pode participar. É onde vamos formatar o/a futuro/a profissional da indústria. Já não digo Game Designer pois hoje tenho alunos nas mais variadas “profissões” dentro da escola, o que é fantástico pela multidisciplinaridade do todo quando temos que fazer um projeto. Terminado esse curso inicial temos uma oferta evolutiva que inicia com o básico dos básicos e com programação em Python, onde os alunos aprendem a fazer 2 jogos e a compreender toda matemática e física aplicada, e só depois disso, e de um projeto entram nos motores de jogos, no nosso caso Unity e primeiramente em 2D. Temos vários níveis e cada nível tem diferentes horas de formação, o mais longo com 60H. Neste processo incluímos toda a nossa diferenciação na aprendizagem que é o que nos define, tal como várias sessões de Lego Serious Play, Aulas de Storytelling e Narrativa, abordagens analógicas com sessões de criação de boardgames para testarem múltiplas abordagens, etc… é um processo “giro”, mas sou altamente suspeito 🙂 Uma coisa é certa: é terrivelmente funcional, uma vez que depois, na escola, aqueles alunos e alunas são umas autênticas “máquinas”, com uma capacidade de raciocínio e de resolução de problemas fantástica.
QoC: Que tendências prevê que moldem o futuro da indústria de desenvolvimento de jogos em Portugal e como é que a Code.Up se posiciona para se manter à frente dessas tendências?
AD: As tendências serão sempre globais. Hoje em dia basta uma ventania mais forte e o mundo está alinhado. Assim de repente, acredito que o multiplataforma pode consolidar muito a indústria. Jogos mais diversificados, competitivos, mas acima de tudo a criar comunidades mais fortes. Estamos a ver também o crescimento do VR e do AR, onde temos cá um caso de sucesso, o OnTop, do Folhadela, que está a dar cartas a nível internacional. A UX em jogos desta natureza irá certamente aumentar e poderão mesmo voltar a redefinir padrões. Vejo também os eSports como um dos catalisadores do mercado. Já ouço alguns miúdos mais novos a dizerem que querem ter uma equipa de eSports e que são muito bons em determinado jogo. São tendências que naturalmente irão continuar a crescer. Por fim, algo que me é querido que é a gamificação, ou seja, a utilização de mecânicas de jogos noutros contextos. Penso que, a par com os “serious games” são 2 áreas que poderão “profissionalizar-se” mais durante 2024.
Nós, naturalmente, vamos tentando estar alinhados com tudo isto.
QoC: Você pode compartilhar algumas histórias de sucesso de GameJams e outros projetos notáveis que surgiram das iniciativas dentro da comunidade de desenvolvimento de jogos?
AD: Claro que sim. A primeira foi em 2021 quando me candidatei, com mais 6 parceiros europeus a um projeto Erasmus+ na área da educação onde o projeto foi precisamente agarrar no que eu já fazia e transpor para o mundo da educação, das salas de aulas. Terminámos o ano de 2023 a fazer formação internacional a professores e alunos nessa metodologia, a que demos o nome de BUPA – Be Upskilling Addittive, e que nada mais nada menos é um currículo menos musculado do CodeUp mas aplicado a qualquer área do ensino e a qualquer ano escolar. Fizemos pilotings em escolas italianas e espanholas e foi um sucesso. A prova dos nove de que funciona mesmo.
A nível das Game Jams, o sucesso é sempre o olhar para os alunos e ver o quanto eles evoluíram desde a última Game Jam e alguns deles, no prazo de um ano tem um crescimento meteórico tanto a nível técnico como humano. É gratificante.
O envolvimento da comunidade local é fantástico. Não apenas envolvemos os alunos, mas as suas famílias que nos apoiam durante todo o fim de semana, escolas (este ano em articulação com a Câmara Municipal da Figueira da Foz, com o apoio do Dr. Pedro Santana Lopes, e com a Divisão da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Económico, levamos a cabo uma série de workshops com escolas e com algumas empresas da região como a Critical Software e a I-do software para falar um pouco da sua visão também desta indústria). E também este ano, já houve mais envolvimento da comunidade empresarial, destacando uma pizzaria local a Luzzo, que patrocinou os almoços das equipas no sábado com tudo incluído. Estamos a dinamizar já 1 semana por ano para a comunidade, graças à GameJam+, e aproveitamos e falamos de muitas coisas mais, como é óbvio.
QoC: Como CEO da code.up, quais são os seus principais objetivos e visões para a organização nos próximos anos, particularmente no contexto dos setores de tecnologia e jogos em Portugal?
AD: Não referi antes mas estou também ligado a muitos dos organizadores internacionais numa rede de networking que já funciona muito bem há 2 anos a esta parte, quando estive no brasil na grande final de 2022. O meu objetivo é continuar a ser um bom embaixador da GameJam+ e levar novas cidades de Portugal para a “Coopetição”, assim como servir de exemplo para outros países de que este modelo de formação funciona e estamos aos poucos a descobrir imensos talentos que serão o futuro desta indústria. Essencialmente gente nova com excelentes valores e com grande qualidade. Quero também ajudar a fazer a grande final mundial em Portugal, na ilha da Madeira, se tudo correr como esperamos e ajudar todos os anos o melhor possível a organização global a chegar a mais países, mais cidades e trazer com isso mais massa crítica para a indústria.
QoC: Como vê o Code.Up a contribuir para o ecossistema mais amplo de inovação tecnológica e empreendedorismo em Portugal, para além do desenvolvimento de jogos, e que colaborações ou parcerias está a explorar para atingir esses objetivos?
AD: Como referi, estou envolvido em alguns projetos Erasmus+ não apenas para o setor escolar (SCH) mas também para o ensino vocacional e profissional (VET) e de educação de adultos (ADU). Paralelamente também faço parte de um consórcio que está em projetos de transferência de competências tecnológicas com a áfrica subsariana (Capacity Building) e onde vamos injetar todo este know-how que gravitam na indústria dos videojogos, uma indústria que tem um processo de formação completo e rico (STEAM puro). Esqueci-me de referir e lembrei-me agora com o que me perguntaste: um dos módulos que temos é de empreendedorismo e visa a criação de negócios, monetização dos produtos (os jogos) e sustentabilidade.
Tenho parcerias como grande parte dos organizadores locais da GameJam, em vários ecossistemas em todo o mundo. Além de amigos que somos, temos tido reuniões a nível profissional, um pouco durante todo o ano, para explorar potenciais projetos em comum. Estamos atualmente num processo desses com os parceiros da Namibia e Macedónia.
Há sempre mais para fazer do que o que já foi feito, por isso, é olhar sempre para além do óbvio e sermos diferentes dos outros em contexto e conteúdo. O resto é trabalho honesto sem passar por cima de ninguém.
Para terminar não posso deixar de referir que infelizmente, no nosso pequeno ecossistema há pessoas que não nos querem bem. Não sei se por inveja, mas é só triste. Tinha que o fazer pois há coisas que me transcendem e a honestidade intelectual e ética para mim são 2 coisas muito importante na formação do caráter de um profissional. É isso que ensino aos meus alunos, e por vezes tenho que lhes mostrar coisas reais para que eles vejam que atitudes nunca ter com os semelhantes. Faz parte da formação deles.
Concluindo, afirma Bruno Reis, os triunfos da Code.Up sublinham o seu papel fundamental na promoção de talentos e na promoção da inovação no cenário de desenvolvimento de jogos digitais em Portugal. Como exemplifica o prémio de António Durão, o compromisso da instituição com a excelência continua a inspirar e moldar o futuro desta indústria dinâmica com os jovens. Nós da Quebrando Controle agradecemos ao grande parceiro, António Durão, por seu tempo e sua entrevista.
Imagem: fotomontagem
Bruno Reis está há quase uma década na indústria gamer, opiniões de um fã de jogos bons. “A vida é melhor quando você joga! Do indie ao game do ano, do SNES ao PC, tudo que é novo eu testo para poder analisar enquanto aproveito. Qualquer jogo que tenha uma boa experiência para nós gamers, sempre é bem-vindo.