Em 1984 a Cortina de Ferro ainda era uma barreira intransponível para a troca de cultura entre capitalistas e soviéticos, e os “vermelhos” sofriam com a falta de bens de consumo com design charmoso tanto quanto o Ocidente parecia desejar uma boa vodka.
Alexey Pajitnov, um brilhante matemático russo, que dedicava suas horas de lazer à criação de programas educativos e jogos em um arcaico computador soviético (o Electronica 60) na Academia de Ciências de Moscou, descobriu certa vez um divertido quebra-cabeças criado pelo norte-americano Solomon Golomb, de nome Pentomino. Naquele momento, nascia em sua mente os conceitos que se transformariam no game Tetris.
“Quando eu vi o quanto eu o jogava e como as outras pessoas o jogavam, achei que era um bom jogo”, disse o criador em uma entrevista de 2007 ao site Gamespot.
Ao longo dessas quatro décadas, completas no dia 7 de junho desse ano, Tetris continuou agradando o público e está entre os mais conhecidos jogos eletrônicos do planeta, formando uma galeria de honra, ao lado de Pacman e Super Mario Bros, entre outros clássicos. Seu autor jamais concebeu vida tão longa e prolífica para o jogo, como afirmou nesta entrevista ao extinto blog GP Arcade: “Quando construí o primeiro protótipo, não conseguia parar de jogar, eu mesmo. Mas nunca imaginei que ele seria tão popular.”
Pajitnov nunca parou de criar evoluções para o jogo e várias versões estão disponíveis no site oficial Tetris.com, onde é possível jogar online em modo solo ou com outros internautas em divertidas batalhas com os amigos.
Tetris, assim como outros ícones do universo dos games, tornou-se mais do que uma diversão, convertendo-se em uma verdadeira linguagem estética, que ganhou variadas formas de arte. As mais conhecidas e interessantes são a obra em 3D “Tetris Head”, de Rihards Rožāns, de 2009, o projeto Tetris Light, da Paladone, vencedor do prêmio Gift of the Year, em 2013, e as estantes em formato de peças de Tetris, da Brave Space Design, entre outras modalidades da cultura geek. Mas talvez a obra de arte interativa mais instigante já realizada com o tema seja o Tetris analógico, do grupo espanhol Codeco. A ideia é simples, extremamente interessante e subverte por completo o conceito original digital, com uma dinâmica lúdica e aparentemente muito extenuante.
Para quem quer conhecer a história para lá de inusitada descrevendo como o game atravessou as fronteiras da União Soviética e chegou aos computadores ocidentais durante o ocaso da Guerra Fria, ainda nos anos 1980, vale conferir Tetris, o Filme, produção lançada em 31 de março de 2023 e ainda hoje disponível na plataforma Apple TV+.
Vale a pena também conferir nossa entrevista com o autor do game Alexey Pajtinov na BGS em 2023.
Este artigo é uma atualização do texto original criado para o portal GeeK, publicado em fevereiro de 2011.
Imagem: Geekly Gadgets

Ex-editor e atual colaborador do Quebrando o Controle, o jornalista se diz um Geek assumido e fanático por RPG e Dungeons & Dragons. O profissional atua desde 2007 no jornalismo de games, com passagens pelos veículos Portal GeeK, Game Cultura, GameStorming, Rádio Geek e Drops de Jogos, entre outros.