Semana passada iniciamos a coluna Indie Games Brasilis falando sobre a necessidade de preservação dos jogos nacionais e da importância de registrarmos os processos de realização dos jogos digitais pelos estúdios brasileiros, a exemplo da iniciativa do projeto Indie Brasilis, que Renato Degiovani eu começamos em 2025.
No texto inicial da coluna, falei sobre o projeto Cânone do Jogo, criado por acadêmicos em parceria com a Biblioteca do Congresso norte-americano, nos idos de 1998, mostrando que o assunto é foco de interesse em outras localidades mundo afora.
Como veremos hoje, a proposta está longe de ficar apenas na mente de desocupados do Brasil e dos EUA, e tem se manifesta em maior ou menos grau em outras partes do globo.
Por que esse é um assunto relevante, alguém poderia perguntar? Bem, de acordo com artigo de julho de 2023 no site Game World Observer, assinado pelo articulista Evgeny Obedkov, 87% dos videogames clássicos correm o risco de cair no esquecimento em razão da crise de preservação e de disponibilidade [esta em função da ausência de equipamentos capazes de rodá-los].
O estudo é da Video Game History Foundation, outra frente de pesquisas, que se apresenta como uma organização sem fins lucrativos dedicada a preservar, celebrar e ensinar a história dos videogames.
Segundo o estudo da VGHF, divulgado pelo diretor da instituição, Phil Salvador, “apenas 13,27% dos videogames clássicos publicados nos EUA estão disponíveis para compra atualmente. A participação é significativamente menor na plataforma Commodore 64, onde apenas 4,5% de todos os títulos permanecem em circulação”.
Em notícia veiculada no início desse ano, fomos informados que o GOG, uma plataforma de distribuição digital de jogos eletrônicos e filmes, iniciada em 2008, se juntou à EFGAMP, Federação Europeia de Arquivos, Museus e Projetos de Preservação de Jogos, mais um programa que se presta a manter viva a memória e a história dos games no mundo.
Outras propostas seguem em ação em vários países no globo, como mostra uma pesquisa da Universidade do Michigan, a exemplo do GAMECIP, Game Metadata and Citation Project, o projeto How They Got Game, o LGIRA, Learning Games Initiative Research Archive, da Universidade de Tuscon, no Arizona, a iniciativa britânica National Videogame Arcade, parceria do National Media Museum e do Nottingham Trent University, o visionário projeto Preserving Virtual Worlds I & II, e o Software Preservation Society, antigamente conhecido como CAPS, Classic Amiga Preservation Society.
Por aqui, temos projetos de preservação da cultura dos jogos digitais, como o VGDB, Video Game Data Base, e o Datassette, que compilam arquivos de mídias e periódicos do passado, falando sobre games em sua plenitude. Não menos importante, as pesquisas de Marcus Garrett, que resultaram na obra 1983+1984: Quando os Videogames Chegaram e no documentário LOADING… Nossos Primeiros Jogos de Computador, são um material de imensa riqueza e profundidade histórica sobre computadores e games no Brasil.
Semana passada, este Quebrando o Controle trouxe a informação sobre o lançamento da DeVuego PT, uma Base de Dados dos Jogos Eletrônicos Portugueses, projeto dedicado a preservar, catalogar e divulgar o patrimônio da indústria de jogos em Portugal.
Muitas frentes, como se observa, o que denota a atenção global para com o tema.
E os games brasileiros, onde está essa compilação de informações para preservação da nossa história? Humildemente, Renato Degiovani e Kao Tokio oferecem a obra Indie Brasilis, que traz 60 games na publicação, acrescida do projeto que soma site e canal de vídeos, para muitos dos games não contemplados no material, previsto para ser impresso ainda este ano.
Quer contribuir com a nossa história brasileira dos games? Fique antenado na campanha de financiamento coletivo do Indie Brasilis, que começa agora em junho pela plataforma Catarse.
Semana que vem, tem mais informações sobre preservação e memória dos jogos nacionais.
Imagem: fotomontagem com arquivos de games brasileiros – Arte: Kao Tokio

Idealizador do projeto Indie Brasilis, ex-editor e atual colaborador do Quebrando o Controle, o jornalista se diz um Geek assumido e fanático por RPG e Dungeons & Dragons. O profissional atua desde 2007 no jornalismo de games, com passagens pelos veículos Portal GeeK, Game Cultura, GameStorming, Rádio Geek e Drops de Jogos, entre outros.