Por Um Punhado De Bits: Artesanato Digital

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O artesanato é uma das mais ricas formas de expressão da cultura e do poder criativo de um povo. Na maioria das vezes, é a representação da história de sua comunidade e a reafirmação da sua auto estima.

Se você leitor é (assim como esse que vos escreve) um desenvolvedor solo, no sentido de não ter medo nenhum de enfrentar a jornada sozinho, então essa coluna é dedicada à você. É um sinal de chega junto, puxe um banquinho que a gente tem muito o que conversar.

No limiar da era digital, quando os computadores pessoais passaram a fazer parte do nosso dia a dia (assim como geladeira, forno de micro-ondas e televisão colorida) produzir um jogo vendável era uma empreitada extremamente complexa. E não apenas pelo nível de conhecimento de programação exigido, mas principalmente pelo domínio do hardware. Some-se a isso pelo menos uma base razoável de conhecimentos gráficos e principalmente de comunicação visual.

A parte sonora chegou logo depois na festa mas mesmo assim chegou exigindo pelo menos conhecimentos mínimos de engenharia de som. Pensa que parou por ai? Negativo. Em seguida veio a pior parte: conhecimentos de produção/gravação, distribuição, marketing, avaliação de custos e preços além de conhecimentos de contabilidade sobre uma atividade que sequer era reconhecida como “atividade”. Talvez por causa disso restaram tão poucos desses pioneiros, afinal, sempre deu pra imaginar um milhão de atividades que dariam bem mais certo que produzir games.

A evolução veio à galope e a ideia do cavaleiro solitário, bradando sua lança contra moinhos de vento foi perdendo o brilho, ofuscada pelo cintilar das verbas de investidores anjos, editais públicos e o famigerado mantra “o governo tem que ajudar”.

Vivenciamos uma espécie de “revolução digital” aos moldes da revolução industrial do século XVIII, na qual a produção de games foi parar nas mãos de muitos. Somado a isso veio a ideia de que milhões de dinheiros e equipes gigantescas comporiam a fórmula do sucesso. Só se for a fórmula das demissões em massa e dos cancelamentos ou flopadas estratosféricas, como a gente está vendo hoje em dia.

Pare e pense: nunca foi tão fácil programar como nos dias atuais e o nível das ferramentas, gratuitas inclusive, para auxílio na tarefa de “codar” nunca esteve tão alto. A parte gráfica e sonora então nem se fala, a IA está aí mesmo para nos ajudar. Produzir? Distribuir? Contabilizar? As lojas digitais estão cumprindo direitinho seu papel e até aqui não apresentaram nenhum entrave.

Tá esperando o que mais? O céu ficar multicolorido?

Olha só que definição bacaninha encontrei navegando pelas wikis da vida: “O artesanato é tradicionalmente a produção na qual o produtor possui os meios de produção e trabalha em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento; ou seja, não havendo divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto.“. Encaixa ou não?

Enfim o paraíso? Nem de longe. Ainda faltam coisas pertinentes a serem incorporadas aqui. Mas também existem coisas pairando no ar, que podem atrapalhar pra caramba, como por exemplo a queda do sigilo das transações (pix, cartão, transferências). A sanha arrecadatória de governos gastadores e o pior de tudo, a possível postura insana e nada democrática de banir as stores do br caso algum incauto resolva fazer um game de pousar em aeroporto de mosquito (com ou sem sala vip).

No que me diz respeito, já estou classificando minha atividade como artesanato digital e portanto, historicamente falando, isento de impostos de qualquer natureza (a não ser que caia na arapuca do MEI, mas isso é conversa pra outro dia e não tão exposta como essa).

Fica portanto o convite para integrar (se já não faz parte) a ala dos que fazem sozinhos, embora sozinho mesmo ninguém nunca estará. O lado bom da força tem muito disso: não macula a nossa alma.

Então, se quiser criticar, elogiar, xingar, falar palavras de incentivo, mandar pix pra ajudar na aposentadoria, etc, o canal mais eficiente é o velho e surrado e-mail: renato@tilt.net. Sinta-se livre pra descer o sarrafo porque nesta altura do campeonato, meu amigo, eu já sofri todas as críticas positivas e negativas que um gamedev pode sofrer.

Imagem: Microsoft Image Creator