O mês de agosto de 2024 foi, de certa forma, cruel com os games lacradores. Dois lançamentos marcaram como o mercado anda reagindo a esta abordagem marqueteira. São eles Concord (lançado dia 23), do estúdio Firewalk Studios, e Dustborn (lançado dia 20), do estúdio Red Thread Games, ambos com ports para a língua portuguesa (e várias outras) ou seja, seguindo o manual básico de como atingir o mercado mundial de verdade.
Mas qual foi a treta digna de nota? Ambos saíram priorizando as tags LGBTQ+ e Political e patinaram feio na largada, mal conseguindo 500 jogadores simultâneos e baixo nível de “owners”. A lacração não é por si só indicativo dessa performance ruim, porém o que aconteceu no dia seguinte sim: os responsáveis pelo jogo Concord não apenas removeram essas tags, como colocaram-nas em proibição, ou seja, ninguém pode atribuir tags semelhantes ao jogo em questão. O pessoal do Dustborn preferiu peitar o mercado.
Pera, que importância tem esse lance de tags, afinal de contas? Vejam só o que diz a documentação do Steamworks:
“As tags que recebem mais peso governam sua visibilidade mais do que aquelas que recebem menos. As 5 principais tags do seu título devem pintar uma imagem bastante clara do seu jogo, pois essas tags também serão usadas para descrevê-lo. As tags são ordenadas na página do seu jogo pela quantidade de peso que cada uma tem no seu jogo, como resultado da sua própria classificação no Assistente de tags. Isso pode ser modificado ao longo do tempo, conforme vários jogadores aplicam tags específicas ao seu jogo. Alguns filtros de loja priorizam as primeiras 15 tags, então certifique-se de que elas sejam classificadas em ordem de relevância para o seu título.”
Ou seja, são justamente as tags que orientam a divulgação dos jogos. E digo isso apenas para o caso de você ser um daqueles desenvolvedores br que acredita que basta colocar o jogo na Steam e partir para o abraço.
Podemos traçar uma montanha de teorias sobre essa questão e todas podem resvalar ou não na verdade. Ainda podemos acrescentar que não há nada de errado com essas tags e menos ainda com os jogos que se identificam com elas ou quererem marcar presença no mercado posicionando-se nestas direções, ou para esses públicos. Mas o fato é que em pelo menos um caso, os responsáveis pelo jogo identificaram que elas poderiam mais atrapalhar do que ajudar. Pegaram o fio? Não é o jogo em si mas como ele é apresentado ao público e forçar a barra numa determinada direção pode não ser a melhor estratégia.
Há quem diga que uma largada “queimada” não representa o fim do mundo, afinal, existem inúmeros exemplos de jogos que começaram mal e foram melhorando ao longo do seu tempo de vida. Então vejamos como as coisas estão neste exato momento, já adentrando o mês de setembro, no momento que escrevo esses asciis:
Concord: owners entre 50 mil e 100 mil; followers 6.489; players yesterday 151.
Dustborn: owners entre 0 e 20 mil; followers 6.317; players yesterday 48.
Eu sei que não deveria fazer o que vou fazer, mas é mais forte que eu e, só para comparação, vejamos como se saiu Black Myth Wukong, lançado no dia 19 de agosto…
Wukong: owners entre 50 milhões e 100 milhões; followers 1.153.547; players yesterday 1.449.873.
Talvez o leitor já tenha uma série de respostas pra tudo isso, mas levem em consideração que eu não conhecia nenhum desses três jogos antes disso. Tive a minha atenção despertada para eles, navegando pela mãe de todas as redes à procura de novidades e esbarrei num post onde essa polêmica foi estampada em algumas matérias. Deixo aqui portanto os mesmos links que eu acessei, para o seu julgamento individual:
Então, se quiser criticar, elogiar, xingar, falar palavras de incentivo, mandar pix pra ajudar na aposentadoria, etc, o canal mais eficiente é o velho e surrado e-mail: renato@tilt.net. Sinta-se livre pra descer o sarrafo porque nesta altura do campeonato, meu amigo, eu já sofri todas as críticas positivas e negativas que um gamedev pode sofrer.
Imagem: Microsoft Image Creator
Game Designer formado em Desenho Industrial e Comunicação Visual, em 1981 pela PUC/RJ. Foi diretor técnico e editor da revista Micro Sistemas de 1983 até 1995. Produtor do site TILT online desde 1996. Autor de vários jogos para computador, tais como Amazônia, Serra Pelada, Aeroporto 83, Angra-I, Xingu, Resgate na Serra do Roncador, Pedra Negra, e muitos outros. Criador das ferramentas de produção e programação de jogos: Sistema Editor de Adventures, Zeus, Micro Aventuras e Projeto Gênesis.