Por Um Punhado De Bits: Vida Longa E Próspera

Renato Degiovani Tecnologia Últimas notícias
Compartilhe

Nos anos 60 e 70, o sonho dos adolescentes eram os gadgets da série Star Trek que, nas mãos dos personagens principais, davam a exata medida do futuro. E não é que o futuro chegou ainda mais rápido do que a gente esperava? O comunicador do Kirk virou o Startac da Motorola, que fez um sucesso gigantesco no começo da era dos celulares. O device de consulta do Spok virou toda uma família de tablets, que ainda hoje custam os olhos da cara (um Surface da MS pode chegar a 14 mil reais hoje, no seu mercado livre mais perto).

Santas evoluções, Batman (não, pera, isso é de outra série). Ainda assim, vale ressaltar que duas coisas nenhuma série tecnológica do século passado (e desse também) previu: rede social (todo mundo andando pelas naves com um celular nas mãos, consultando e postando nas suas redes) e consoles de games. Mas isso não quer dizer que não inovamos ou não desenvolvemos bons produtos nesses mercados.

O universo dos consoles sempre esteve recheado de novidades, lançamentos, promessas e principalmente de hypes, desde os tempos do pré-histórico Atari. Como se trata de produtos voltados principalmente para os jovens adolescentes, faz parte da tradição expor meia dúzia de infos e deixar a galera delirar à vontade. Funciona? Sim, funciona bem pelo menos até o mercado perceber que as coisas não são exatamente como pretendido pelos idealizadores ou então o troço vira mesmo um case de sucesso.

E não é que em pleno 2024 estamos vivenciando uma (mais uma) onda tupiniquim neste sentido? Uma marca brasileira famosa que, nos idos passados atuou forte na produção das primeiras gerações de consoles, tenta retornar aos holofotes no ramo dos videogames portáteis, com seu Zeenix. Depois de passar um tempo fornecendo informações a conta gotas ao mercado, eis que finalmente (dia 22 de junho) o produto é apresentado ao grande público potencial consumidor, via live pela internet.

Minha primeira impressão, ao ver o aparelho nas mãos de uma pessoa real, foi: nossa, um celularzão meio desajeitado. Mesmo não tendo o charme e a elegância de um Switch, até que, por ser um console portátil, tem lá seu apelo visual. Digo visual porque até o presente momento nada mais foi dito sobre o Zeenix, principalmente o quanto essa brincadeira vai pesar no bolso dos consumidores. E é justamente essa informação que, por sua relevância, deixa um ponto de interrogação gigantesco flutuando por ai: quanto vai custar esse PCzinho (mais um) portátil, mesmo não sendo um notebook ou tablet? Faz sentido isso pra você?

Se fizer uma busca rápida pela internet, verá que existe um chinês chamado Loki-Mini Pro Retro Gaming Touch Screen Tablet, que é a “cara” do Zeenix apresentado na live. Sem tirar nem por, o que pode ter sido uma mera “inspiração” (típica dos anos 80/90 por conta da reserva de mercado vigente no br). Só que o garotinho ai custa, no xingling mais próximo, a bagatela de R$3.609,85 e nem sei se esse preço inclui o Taxxad (senão pode dobrar o valor). Talvez o “Retro Gaming” do nome seja justamente a cereja do bolo, mesmo com a promessa de executar qualquer jogo atual.

Mas, rodar todos os jogos que já rodam nos demais devices eletrônicos é chover no molhado. Dizer algo como “o que quiser, onde quiser, com quem quiser e como quiser” não leva a nada porque hoje já é assim. Ou será que nesses mais de 10 anos que a empresa esteve fora do mercado de consoles ela simplesmente ignorou o que acontecia ao seu redor? Essa bola já passou das mãos do hardware para o software, ou seja, os jogos modernos são jogados em qualquer equipamento, muitas vezes até compartilhando dados de partida, o que já é uma tendência.

Mas não podemos honestamente desprezar o conhecimento e a expertise do fabricante, principalmente pela sua atuação no mercado brasileiro. Se existe uma empresa que, desde os anos 80, vende games e consoles nas terras tupiniquins e já dominou 75% do mercado de consoles, essa é a top delas, colecionando sucessos e fracassos também. Mas ter experiência não é garantia de saber usá-la, então, teremos que esperar pelos próximos movimentos.

Houve nessa apresentação (e não lançamento) um “chamado” meio empolgado além da conta, para a indústria brasileira de jogos digitais. Já perdi as contas de quantas vezes assisti (às vezes, de camarote) lançamentos com esse apelo e no final tudo se resume ao que de fato é percebido pelo mercado. Vale aqui a máxima: não basta ser brasileiro, tem que parecer brasileiro também.

Enfim, promessas, promessas e mais promessas. Principalmente a de ressurgimento como produtor neste mercado. Talvez o próprio nome do console indique isso: um Zeebo renascido tal qual uma Fênix pós concordata. Vale dar um crédito para o produto? Sinceramente? Vale. Mal não faz.

Fica anotado aqui o velho dilema tostines: o Zeenix vai fazer sucesso no Brasil porque foca e dá destaque à produção nacional de games ou a produção nacional de games vai dar um gás extra ao desempenho comercial do console brasileiro. Se não repetirem os erros do Zeebo e se o preço não passar da estratosfera, pode até ser que dê certo.

Então, se quiser criticar, elogiar, xingar, falar palavras de incentivo, mandar pix pra ajudar na aposentadoria, etc, o canal mais eficiente é o velho e surrado e-mail: renato@tilt.net. Sinta-se livre pra descer o sarrafo porque nesta altura do campeonato, meu amigo, eu já sofri todas as críticas positivas e negativas que um gamedev pode sofrer.

Imagem: equipe Quebrando o Controle